quarta-feira, agosto 09, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 15.

Continuação do post anterior.
Marcos: O Evangelho do Servo de Deus.
O Evangelho de Marcos ressalta o ministério dinâmico e ativo de Jesus. Guiado pelo Espírito Santo, Marcos mostrou como Cristo cumpriu a sua missão na qualidade de servo obediente e diligente de Deus. Ao considerarmos o Evangelho que Marcos escreveu, examinaremos sua identidade, como autor do mesmo. Também verificaremos o conteúdo do livro, sua ênfase e suas características especiais.
Autor. Há um consenso geral entre os estudiosos do Novo Testamento, de que o autor do Evangelho de Marcos foi João Marcos, o jovem que foi em companhia de Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária deles. (Veja em Atos 12.12: “Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam” - RA). Marcos era parente de Barnabé (Veja Colossences 4.10: “Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o” - RA), e associado chegado do apóstolo Pedro (Veja 1 Pedro 5.13: “ Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos” - RA), onde Pedro chama Marcos de “filho” – um título dado como prova de afeto. De fato é bem provável que o Evangelho de Marcos exponha o relato de Pedro como testemunha ocular, pois Marcos estava bem familiarizado com a vida e a pregação de Pedro. O próprio Marcos pode ter estado presente em algumas das ocorrências que ele descreveu.
Ênfase. O relato de Marcos sobre Jesus Cristo salienta a vida e as atividades de Jesus, como o Filho de Deus (Veja Marcos 1.1: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” - RA). Assim sendo, exercia forte atração sobre a mente romana, com seu interesse pelo lado prático da vida. Contrastando com Mateus e Lucas, para exemplificar, Marcos não apresenta a genealogia de Cristo. Isso se coaduna com o interesse de Marcos pela vida de serviços de Jesus, pois a história da família de um servo não é importante. A ênfase de Marcos é indicada de outras maneiras, igualmente. O Evangelho de Lucas tem quase o dobro do volume do de Marcos. No entanto, Lucas narra vinte milagres, ao passo que Marcos narra dezoito milagres em pouco mais da metade do espaço. Apesar de que Marcos narrou muitos dos ensinamentos de Jesus, com freqüência ele simplesmente referiu-se ao fato de que Jesus ensinou (Veja os versículos 2.13; 6.2,6,34 e 12.35 como exemplos disso).
Marcos também ressaltou o fato de que Cristo realizou a Sua missão com zelo e propósito. Por muitas vezes Ele viu-se cercado por grandes multidões, a cujas necessidades Ele ministrava (Veja os versículos 3.7-12,20,21: 4.1,2; 5.21-34; 6.30-44, 53-56 e 8.1-13). O vocábulo grego euthus, traduzido por expressões como “imediatamente”, etc., aparece por quarenta e duas vezes nas páginas do Evangelho de Marcos (esse vocábulo só aparece por sete vezes no Evangelho de Mateus e por uma vez em Lucas). Essa expressão é usada por quatorze vezes acerca das próprias ações de Jesus, servindo de indicação da prontidão e espontaneidade com que Ele servia. O uso que Marcos fez desse vocábulo em diversos lugares, em sua narrativa, também demonstra o fato de que Cristo se apressava para chegar ao alvo de Sua vida de serviço. Disse Jesus aos Seus discípulos que “… o Filho de Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (10.45). O Evangelho de Marcos é menos longo que os Evangelhos de Mateus e de Lucas e não inclui um registro detalhado da história da família de Jesus.
Um estilo vívido e vigoroso. Com freqüência, Marcos descreve eventos passados como se estivessem acontecendo no momento em que ele escrevia acerca dos mesmos. Para tanto ele usava uma forma verbal chamada “presente histórico”. Essa forma poderia ser representada em português por uma forma verbal presente com eu vejo, tu andas, ele fala. No entanto, para a maioria dos leitores da língua portuguesa, isso pareceria incomum e estranho, sendo que o sentido é obviamente passado. Por essa razão, o presente histórico do grego usualmente é representado, na maioria das traduções, pelo passado simples, como eu vi, tu andaste, ele falou.
Notemos que os dois verbos que foram utilizados por nós, verbos esses que aparecem em Marcos 4.38, na nossa versão em português: “E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertam e lhe dizem: Mestre, não te importa que pereçamos?” Em outras versões, não só em português, mas em outros idiomas, esses dois verbos aparecem no passado simples, “despertaram” e “disseram”. Mas você pode perceber que o presente histórico que aqui é referido na nossa versão portuguesa, torna a narrativa mais vívida. Marcos utilizou esse recurso da gramática grega por mais de cento e cinqüenta vezes.
Outras características do estilo de Marcos também aumentam o realismo e o drama de sua narrativa. Ele usava muitas frases que fornecem detalhes vívidos e descritivos.
Continua no próximo post.


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